quinta-feira

MEU QUASE ASSASSINATO

Uma noite, voltando a pé do teatro, fui perseguido por um carro suspeito ao entrar na pequena rua onde moro com minha tia. Escapei por um triz de ser atropelado pelo jaguar lindão...
Eu sabia quem ia dirigindo, e sabia também que aquele cara não descansaria naquela noite enquanto não matasse alguém... Era a forma que ele encontrara de relaxar depois de um dia terrível na companhia onde era um dos figurões.
Quando o carro dobrou na esquina, eu não me contive e gritei:
– Vai te foder, ô caralho!
Sorrindo, entrei em casa e passei pelo quarto da minha tia para ver se ela ainda estava acordada; queria contar para ela do apuro pelo qual eu acabara de passar...
A velha dormia profundamente, parecia morta.
Fui à cozinha beber água e depois fui para o meu quarto. Me despi e deitei só de cueca.
Pensei no motorista bandido. Ele devia ter ficado muito puto por não conseguir me pegar...
Então olhei para a minha estante. Poucos livros, todos lidos tantas vezes!
Me levantei e peguei um do Rubem Fonseca, meu autor preferido. Abri no conto “Passeio Noturno” e, de volta à cama, reli o conto com a mesma empolgação de quando o li pela primeira vez...
Meu quase assassino morava naquele conto...
Sorri feliz. E  fechei o livro.

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