quinta-feira

KAFKIANO

Aquele noite marcou três acontecimentos importantes na vida de Gregório: leu "A Metamorfose", rompeu com a namorada por telefone e comeu a primeira barata.

quarta-feira

UM VAMPIRO EM APUROS


na noite fria
de Curitiba

(o Trevisan
escre/vendo...),

a travestida, orra!,
abre as pernas,

Nelsinho
entra...

– e,
segundos depois,

eleZão é mosquinha
se debatendo

desespe-
radamente

na
teia

da aranha
assassina!...

quinta-feira

MEU QUASE ASSASSINATO

Uma noite, voltando a pé do teatro, fui perseguido por um carro suspeito ao entrar na pequena rua onde moro com minha tia. Escapei por um triz de ser atropelado pelo jaguar lindão...
Eu sabia quem ia dirigindo, e sabia também que aquele cara não descansaria naquela noite enquanto não matasse alguém... Era a forma que ele encontrara de relaxar depois de um dia terrível na companhia onde era um dos figurões.
Quando o carro dobrou na esquina, eu não me contive e gritei:
– Vai te foder, ô caralho!
Sorrindo, entrei em casa e passei pelo quarto da minha tia para ver se ela ainda estava acordada; queria contar para ela do apuro pelo qual eu acabara de passar...
A velha dormia profundamente, parecia morta.
Fui à cozinha beber água e depois fui para o meu quarto. Me despi e deitei só de cueca.
Pensei no motorista bandido. Ele devia ter ficado muito puto por não conseguir me pegar...
Então olhei para a minha estante. Poucos livros, todos lidos tantas vezes!
Me levantei e peguei um do Rubem Fonseca, meu autor preferido. Abri no conto “Passeio Noturno” e, de volta à cama, reli o conto com a mesma empolgação de quando o li pela primeira vez...
Meu quase assassino morava naquele conto...
Sorri feliz. E  fechei o livro.

quarta-feira

DANÇANDO COM O DEMÔNIO

‘Estás linda!’, diz Tia Mei.
Ora! Diandra sabia disso. Como podia não estar linda para a noite mais importante da sua vida?!
Diante do espelho, suspira: ‘Ai, Tia, será que Ele...?’
A velha já saíra do quarto... Ah, para o inferno!
‘Não, pro inferno vou eu!’, emenda Diandra.
Ela vai para a pequena sala de estar. Senta-se no sofá muito séria.
Daí a pouco, Tia Mei traz uma xícara fumegante. ‘Vai te fazer bem, minha filha... ’
Diandra recusa.
A velha, contrariada, volta para a cozinha.
O relógio na estante marca 23:41. ‘Quase na hora!...’, pensa a garota alisando o vestido preto insinuante.
Tia Mei vem sentar-se junto dela. Ficam ambas caladas, até que a velha rompe o silêncio: ‘Estás fazendo 15 anos... Meu Deus, o tempo trai!’
Diandra não responde. Mantém-se ereta e sisuda – os pequenos olhos cor de amêndoas presos à porta.
‘E se Ele não vier?...’, solta a velha de repente.
A garota lança à Tia um olhar feroz.
O silêncio torna a cair. Só o relógio tic-tac na estante.
Meia-noite em ponto, a porta se abre. O cheiro de enxofre precede o estranho que entra pisando firme...
‘Meu amor!’, exclama Diandra.
Tremendo de felicidade, ela corre para o esperado abraço...
Dançam sem música por horas seguidas... Então o Grande Demônio ordena: ‘Vem comigo, doçura!’
Tia Mei, gritando e chorando, bem que tenta impedir – mas é repelida com um safanão da sobrinha...
Diandra sorri para o Grande Demônio. ‘Tô pronta!’, ela exclama.
Agarradinhos, os dois saem; atrás deles, a porta se fecha – para sempre! – com um baque surdo...
Caída no sofá, olhos revirados, a velha dá um grito pavoroso  e morre.             

domingo

MICROCONTOS 2



26. LEMBRETE
"Hoje é sexta", disse ele para a esposa. "Dia do nosso sexo."

25. MAL-INDO
Arrumou as malas e saiu. Não chorou, não olhou para trás, não disse que não voltaria...

24. DESCOBERTA
Precisava de um homem naquela noite. Um homem que não fosse seu pai, nem seu amigo, nem ele mesmo...

23. A DEBUTANTE
15 anos, excêntrica, Lizzy deixou claro – só dançaria na festa com Jack Estripador. Para isso, mandou seu pai ao inferno com 1 tiro na cabeça...