quinta-feira

O VISITANTE

Ele – o meu visitante – chega em silêncio. Eu nunca ouço o som dos seus passos entrando, até que uma onda de perfume me coloca em alerta. E aí meu coração dispara...
Curioso: faz meses que a gente se encontra – sempre nas terças, às dez para a meia-noite – mas, para mim, é como se fosse ainda a primeira vez. Seria isso o quê? Apenas um desejo proibido... e incontrolável?
Então, de repente, ele irrompe no quarto. Ambos sorrimos, e ele vem sentar-se ao meu lado na cama. Me beija na boca, um beijo faminto e nada comportado.
“Tudo bem com você?”, pergunta ele em seguida.
“Comigo tudo ótimo, e você?
Ele me beija de novo, enquanto me joga na cama com a fúria de um touro. Eu já sinto o seu membro rijo me espetando as coxas nuas – pois é assim mesmo que o espero: nua em pêlo, somente os cabelos caindo sobre os meus seios, nada mais.
Finalmente livre de suas roupas – exceto a gravata – ele entra em mim. No princípio devagar, depois de uma forma tão intensa que não poucas vezes minha cama veio a abaixo.
Gozamos juntos, eu e ele. Ele afaga meu rosto, me cobre de beijinhos carinhosos, sorri e vai embora.
“Até terça”, diz ele fechando a porta do quarto.
Eu respondo:
“Até, meu caro...”
É, mas eu preciso tomar precaução com isso... Semana passada, ao me despedir, eu  quase digo: 
“Até... Até terça, meu amor!..."

terça-feira

OS GATOS

 Sempre detestei os gatos. Desde pequeno os detestei. O motivo era um só: o barulho infernal que eles faziam em cima do telhado. Diacho, por que não transavam em silêncio? Pra que aquele escarcéu todo, como se quisessem que todo o mundo soubesse o que estavam fazendo?Eu pensava comigo: algum dia, quando eu fizer sexo com uma mulher, se ela vier gritando feito uma gata no cio, eu me levanto, vou embora e nunca mais quero nada com ela! Era assim mesmo que eu pensava. Eu tinha doze anos de idade. O tempo passou. Agora eu já tinha quinze. Mas ainda não tinha mudado de opinião. Então aconteceu. Uma noite, fui pro mato com Sandrinha, irmã de um amigo meu. Eu nunca tinha sequer beijado alguém. Tudo que eu sabia de sexo vinha das aulas de ciência (um quase nada!) e das revistinhas sujas que tomava emprestado da molecada da vizinhança. Quando Sandrinha tirou a roupa, eu comecei a suar frio. Bateu aquele desespero, e eu pensei em fugir dali pra bem longe. Mas aí ponderei: e se a diaba resolver contar pras colegas? Com certeza vão dizer que eu sou um frouxo... Por causa disso, tive de aguentar. Tirei a camisa, a calça e me deitei sobre a minha parceira. Comecei beijando sua boca, e ela parece que gostou, pois me abraçou forte e começou a gemer e supirar... Com certa dificuldade, penetrei Sandrinha como tinha visto nas revistas. Ou como tinha visto a bicharada fazendo no quintal... A danada começou a gemer mais forte... e de repente começou a gritar que nem uma gata! Eu não quis nem saber. Me levantei, vesti minhas roupas e fui embora sem nem ao menos olhar pra trás. Sandrinha ficou sozinha no escuro, decerto sem entender patavinas da minha atitude. Meses depois, em compensação, transei pra valer. Não com Sandrinha, claro. Com outra. Foi um sexo silencioso, sem pressa, do jeito que eu sempre sonhara... Lembro direitinho daquela transa, mesmo agora que já não sou mais nenhum jovenzinho... Ops! Vou encerrar este continho. Sei que não conseguirei escrever nem mais uma linha esta noite. São duas da manhã – e começo a ouvir  passos leves no telhado... São eles, os gatos. Daqui a pouco a esculhambação começa! Um verdadeiro inferno!!!

sexta-feira

AMOR, ESTRANHO AMOR

Mordeu  os pezinhos dela. Eram quase perfeitos... Só faltava o chulé!

AMOR SAFADO

Beijou-a na boca, e ela lambeu-lhe o ânus.

QUEIMA-ROUPA

Disparou três vezes:
- Eu te amo! Eu te amo! Eu te amo!

RIO NOTURNO


Sobe no parapeito da ponte, disposto a pular nas águas turvas do rio.
– Ei, você aí!
Do susto, Tonho quase perde o equilíbrio e cai de vez.
– O que tá fazendo, companheiro?
O intruso era um ruivinho de óculos, livro debaixo do braço.
– Vai pular mesmo?
– Por quê? Você vai me impedir?
– De jeito nenhum! Quero é pular com você...
– O quê?
– Faz tempo que eu queria pular, sabe?
– Não já pulou por quê?
– Faltou coragem de pular sozinho... Aí eu estava na praça lendo esse livro de poesias, vi você passando pra esse lado e pensei: “Esse cara tá indo pular da ponte.” Então vim correndo atrás de você. Posso subir aí?
– Vai embora, não me enche saco!
– Por favor, amigo, me deixe pular com você!
– Não sou seu amigo. E saia logo daqui enquanto não te quebro a cara de porrada!
– Tá bem, eu vou embora... Mas antes me fala uma coisa, pode ser?
– Que coisa?
– Por que você quer morrer?
– Não é da sua conta!
– Tá certo, me desculpe a intromissão... Vou embora. Tchau!
– Espera!
– O quê?
– E você... por que tá querendo morrer?
– Sei lá! Desde pequeno sempre tive a vontade de pular dessa ponte, uma noite... Você tinha essa vontade também?
– Não, é que ando meio chateado com umas coisas, entende?
– Sei como é... E aí, vai me deixar pular com você?
– Você quer mesmo?
– Ora se quero!
Sorrindo, Tonho desce do parapeito.
O ruivinho se desespera:
– O que foi? Não me diga que desistiu!
– Desisti...
– Só porque eu ia pular com você?
– Não é isso, não... Eu não quero morrer, acho que só me precipitei um pouco...
– E agora?
– Agora, se você quiser, vai ter que pular sozinho!
– Ah, não! Sozinho de jeito nenhum!
Sorrindo de novo, Tonho propõe tomarem uma cerveja num bar qualquer.
– Ou uma cachaça, se você preferir...
O outro, ligeiro, estende a mão:
– Feito! Como você se chama?

terça-feira

OS AMANTES


Estavam deitados agarradinhos, tinham acabado de transar.
“Me fala uma coisa”, pediu ela de repente.
“Que coisa, benzinho?”, disse ele.
“Ah, qualquer uma...”
“Está bem... Esternocleidomastoide, então.”
Ela riu:
“Que bicho é esse?”
“É um músculo do nosso corpo; este aqui, ó.”
“Nunca ouvi falar!”
“E catrapus, já ouviu?”
“É outro músculo?”
“Não, é o galopar do cavalo.”
Ela sorriu de novo, parecia uma criança rindo.
Aí pediu mais e ele se exibiu dizendo outras palavrinhas esquisitas aprendidas no dicionário.
Depois fizeram sexo de novo, era o amor!

IN/SENSIBILIDADE

Depois do ato, ele levantou-se e foi ao banheiro.
Na cama, ela ficou só escutando a mijada... 
Seu coração – tadinho! – ficou todo ensopado.

MULHERES NA NOITE RUBRA


A noite está fria, as mulheres chegaram ali faz meia hora.
Rutineia fala para a amiga:
Sabe, hoje eu li um livro bem legal!”
Que livro, algum sobre como sobreviver no frio?”
Não: Rapunzel!”
Você lê essas porcarias, é?”
Foi o primeiro que eu li, minha filha ganhou na escola. E você, quantos já leu?”
Bem uns dez, mas confesso que nunca fui de ler, não; só li porque minha madrasta me obrigou...”
Nossa, ela fazia isso, era?!”
Fazia. Agora a megera não faz mais.”
Olha só, tá vindo um carro aí...”
Aí, posso ir? Hoje eu tô muito a fim, sabe como é.”
Vai lá, menina!”
O carro para, Suélem se aproxima toda serelepe, mas o veículo logo vai embora.
O que aconteceu?”
O desgraçado achou caro. Pão duro de uma figa!”
Olha, tá vindo outro carro!”
Agora vai você.”
Rutineia se aproxima, e o carro vai embora.
Vai ver o sacana também achou caro, né?”
Sei lá, menina! Era uma mulher... Ela me olhou com uma cara esquisita e caiu fora!”
As duas riram.
Aí Rutineia pergunta:
Quer que eu leia a Rapunzel pra você, Suélem? Eu trouxe na bolsa!”
A outra faz um gesto de impaciência:
Lê, vai; assim o tempo passa mais rápido!”
Então Rutineia puxa o livro da bolsa e começa a ler:
Era uma vez...”
E coração dela, acreditem, se sacode todo a cada palavra pronunciada!

OS CARNÍVOROS


Naquela noite, João apareceu com carne para o jantar.
Maria assou a carne, serviu o arroz com feijão e eles comeram em silêncio.
Dali em diante, com certa regularidade, João passou a trazer aquela carne; eles deglutiam sem medo ou prazer.
Uma vez, dentro do pacote, havia dois pés e uma mão – com unha e tudo.
Maria olhou aquilo e perguntou para o marido:
“É bom?”
Mas João já entrara no banho...
Enquanto aprontava o quitute, Maria derramou uma lágrima na frigideira – ou será que foi um pingo de suor?
Pois bem, estavam comendo quando bateram à porta.
Era o primo lá do outro lado da cidade, que estava passando por ali a negócios e resolvera fazer uma visitinha.
Instado a jantar, ele acabou aceitando...
No prato, sobre o macarrão e a salada, Maria colocou dois dedos: o polegar da mão trazida pelo marido e o dedo mínimo do seu próprio pezinho.
O primo comeu tudo, lambeu os beiços e falou:
“Um espetáculo, prima!”
Maria agradeceu sorrindo – sempre tivera uma quedinha por aquele parente do marido...
Daí a dez minutos, o primo se despediu do casal e foi embora.
João acendeu um cigarro e plantou-se diante da TV.
Maria também.
Assistiram a uma reportagem sobre a vida selvagem na África: elefantes, hienas, leões copulando...
Mais tarde, na cama – depois de um sexo minguado –, Maria esboçou um sorrisinho:
“João, sabe do que estou lembrando?”
“Do quê?”
“Do cheiro das flores do meu buquê de casamento...”
“O quê?”, espantou-se o marido.
Maria suspirou sonhadora, e eles dormiram logo em seguida.
João, então, sonhou com os peitos da nova vizinha.
Maria, por sua vez, teve uma noite sem sonhos.
Mas de manhã acordou com uma sede danada – e passou o resto do dia pensando no braço fortão daquele primo lá do outro lado da cidade...
Às seis, como de costume, João chegou do serviço.
Vinha taciturno, pacote debaixo do braço...
Dentro do pacote, apenas frugalidades: leite, linguiça e farinha de fubá.