sábado

LOS DIABITOS







Quero beijar sua boca, disse ele. Por quê, disse ela. Porque ela é vermelha, disse ele. Mas você é meu irmão, disse ela. E daí, disse ele. É pecado, disse ela. Quem te falou, disse ele. Todo mundo, disse ela. Eu não ligo, disse ele. Tenho medo de ir pro inferno, disse ela. O inferno é caô, disse ele. Sei lá, disse ela. Ele não existe não, disse ele. Você é um bobo, disse ela. E você tem a boca bonita, disse ele. Bobão, disse ela. Sou mesmo, disse ele. Vai chover, disse ela. Vai, disse ele. E mamãe que não chega, disse ela. Pois é, disse ele. Se ela pegar a gente, disse ela. Bobagem, disse ele. Ela vai brigar, disse ela. Mamãe briga por qualquer coisa, disse ele. Verdade, disse ela. Me abraça, disse ele. Não, disse ela. Só mais uma vez, disse ele. Tá bem, disse ela. Agora me beija, disse ele. Dou um selinho, disse ela. Quero língua, disse ele. Selinho, disse ela. Língua, disse ele. Vou me levantar, disse ela. Eu não vou deixar, disse ele. Me solta, disse ela. Não, disse ele. Por favor, disse ela. Então me beija, disse ele. Só um pouquinho, disse ela. Meu amor, disse ele. Seu chato, disse ela.
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Saiam já da minha cama, disse ela...

2 comentários:

Wilden Barreiro disse...

demolidor, o ritmo do diálogo, Hélio.
me fez lembrar o Luis Vilela, manja?
não leio nada dele há séculos, nem sei se ainda publica, mas é o contista de diálogos mais enxutos e contundentes que já li.

abraço

Francisco Hélio Sena Brito disse...

Olá, Wilden. Luiz Vilela sempre foi um de meus autores preferidos. Fico lisonjeado com seu comentário, obrigado!!!